No dia 18 de Setembro de 1950, o jornalista Assis Chateaubriand inaugurava a TV Tupi em São Paulo. A primeira emissora de televisão do Brasil fazia parte dos diários associados, um aglomerado de rádios e jornais, e posteriormente com o surgimento de outros canais formou uma das primeiras redes nacionais. Desde cedo este veiculo se preocupou em garantir produtos de qualidade para todos os públicos, em especial para as crianças. Se hoje a TV aberta trata o publico infantil com certo descaso, lá no seu inicio ela produziu programas perpetuados até hoje, principalmente aqueles escritos por Júlio Gouveia e Tatiana Belinky.
Magalhães Jr, do canal guia dos curiosos, conta como Júlio Gouveia e Tatiana Belinky começaram a trabalhar na TV: "Ele (Júlio Gouveia) era médico psiquiatra, gostava de artes mas nunca tinha pensado em trabalhar em televisão, ele gostava de trabalhar em teatro. E a sua mulher, Tatiana Belinky, era russa, tradutora e interprete de russo, inglês e francês. Esse casal tinham uma preocupação com a cultura infantil, e pelos contatos que eles tinham foram convidados pela secretaria municipal de cultura de SP a desenvolver um grupo teatral que pudesse levar o teatro para crianças por toda cidade [...] Surgiu o teatro escola de são Paulo. Eles fizeram isso no final dos anos quarenta, em 1950 a TV é inaugurada e eles recebem o convite para apresentar uma peça na Tupi. Eles montam tudo com amadores e o resultado é tão bom que uma vez por semana eles apresentem uma peça diferente. Isso vai acontecendo até o momento em que, como eles tinham conhecido Monteiro Lobato, resolvem fazer uma homenagem pegando um trecho de suas obras, chamada a pílula falante, e transformam aquilo numa peça fazendo um grande sucesso. Existiu ali um embrião que mexeu tanto com o casal como com os donos da emissora, que foram convidados a fazer semanalmente um trabalho ligado ao Monteiro Lobato com o elenco da TESP."
O ator Paulo Basco, que interpretou o Dr. Caramujo, esteve presente nesse início ainda no fim dos anos quarenta. Em entrevista em Junho de 1980 ele relembrou esta fase do TESP: "Fiquei conhecendo o Júlio no SESC mesmo para organizar o teatro infantil do SESC e começamos com teatros de bairros com peças infantis e ele recebia muito material da UNESCO. Fazíamos principalmente fabulas animadas, historias de bichos, historias de Esopo, LaFontaine, e havia aquela correria para preparar as fantasias. Logo depois surgia a televisão, começamos com o Sitio do picapau amarelo (...) e também as fábulas animadas e no teatro da juventude aos domingos."
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Propagandas do Sítio com diferentes particionadores. |
O Sítio de Monteiro Lobato, que já havia sido pioneiro na literatura e no cinema, começava a escrever sua história na TV. Com poucos recursos técnicos, os dois autores precisaram usar muita criatividade para que a obra fosse fielmente adaptada, de forma que poucas aventuras deixaram de ser exibidas, como no caso do Poço do Visconde. Ainda assim o sucesso foi tanto que o programa ficou mais de dez anos no ar ganhando ainda uma versão paralela na TV Tupi do Rio de Janeiro. Segundo os sites Wikipédia e Infantv, o Sítio da Tupi de SP estreou no dia 3 de Junho de 1952 permanecendo na emissora até 6 de Março de 1963 sendo exibido às 19:30.
Tatiana de início recusava-se a escrever, Júlio entretanto pediu para que ela encerra-se uma historia e dai por diante ela passou a escrever, talvez tenha sido essa a inspiração que a levou a começar a escrever seus próprios livros a partir de 1985.
Cada episódio iniciava com o tema da música “Dobrado”, composto por Salathiel Coelho, com as imagens de Júlio Gouveia abrindo um livro para contar uma história. Ao final, o episódio terminava com Júlio fechando o livro. As cenas ocorriam majoritariamente em um único cenário fixo, a varanda do sítio. As cenas em locais diferentes, como na mata ou na cozinha, eram montadas em dias específicos e os personagens se deslocavam para lá bruscamente. As histórias não tinham interrupção para o intervalo comercial e, por isso, durante os diálogos ou cenas com os atores fixos, eram introduzidas divulgações de produtos.
Segundo Paulo Basco, havia a necessidade de improvisação, retenção mais rápida do texto. Haviam dois ensaios e um ensaio de câmera sendo o Sítio exibido em torno de 15 minutos e o teatro da juventude em 45. Paulo relembra que havia um assistente de com os textos para ler durante as cenas, mas os refletores impediam e muitas vezes e se fazia necessário cobrir a luz com o corpo, fazia-se uma passagem de cena para recolher o texto e retornar.
Em entrevista para o Museu da Imagem e do Som em Maio de 1980 a atriz Edi Cerry, que interpretou Narizinho, comentou sobre o pioneirismo de Júlio e Tatiana: "Hoje em dia qualquer ator é capaz de dizer que foi o primeiro a fazer novela em TV brasileira, mas na realidade o Júlio Gouveia foi o primeiro a fazer novela, porque o sitio era uma vez por semana mas era em capítulo". Na mesma entrevista Edy relembra como se tornou Narizinho: "Eu comecei em 1952, final de 1951 e comecinho de 1952, comecei fazendo o Sítio do picapau amarelo. Foi engraçado porque naquela época eu gostava demais de TV, assistia demais o Sitio do picapau amarelo, na minha época era uma outra pessoa que fazia a Narizinho então procurei Júlio Gouveia, fui no Teatro Escola de São Paulo conversei com ele e ele me perguntou o que eu gostaria da fazer , eu falei que gostaria de ser atriz, ele perguntou quem eu queria fazer e eu falei o Narizinho. Ele deu uma risadinha e depois de uns tempos a menina que fazia a Narizinho já estava ficando mocinha e ele me telefonou para fazer a narizinho. Eu fiz o sitio durante 15 anos e depois foi difícil fazer outro programa porque todo mundo só me via como Narizinho, mas eu queria provar a eles que eu podia fazer outro tipo de coisa.
Infelizmente tornou-se difícil listar os atores que trabalharam no Sítio pois os sites divergem em relação aos nomes, entretanto os nomes apresentados abaixo são encontrados em pelo menos duas fontes diferentes:
Emília: Lúcia Lambertini, Dulce Margarida.
Pedrinho: Sérgio Rosemberg, Julinho Simões, David José, Nagib Anderáos Neto e André José Adler (RJ)
Narizinho: Lídia Rosemberg, Edi Cerri e Leny Vieira (RJ)
Visconde: Rúbens Molino, Luciano Maurício, Hernê Lebon, Elísio de Alburquerque (RJ)
D. Benta: Wanda Hammel, Suzy Arruda, Leonor Pacheco, Iná Malaguti (RJ)
Tia Nastácia: Benedita Rodrigues e Zine Pereira (RJ)
Rabicó: Ricardo Gouveia e Fininho (RJ)
Dr. Caramujo: Paulo Basco
Domingo (20/09) a continuação desse especial onde vão ser relembrados os produtos lançados, o impacto do programa na audiência e os efeitos especiais. Mas isso é uma outra história que fica para um outro dia !
Fonte: Jornal das moças Fev.54; TATIANA BELINKY: a história de uma contadora de histórias; Infantv; teledramaturgia.com; wikipedia.com; MIS SP.